De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, a dualidade do empreendedorismo por necessidade se manifesta claramente em nosso país nos últimos anos. Mesmo revelando alguns talentos para empreender, o país pouco cresce com este tipo de empreendedorismo uma vez que um alto percentual vive na informalidade e outro alto percentual declina ao insucesso em menos de dois anos.
Segundo Glauco, a lógica tradicional de inserção no mundo do trabalho é um polo definidor de um “leque de profissões” oferecido pelo mercado de trabalho. Os indivíduos tradicionalmente procuram o mercado de trabalho antes de empreender. O entrante se prepara para seguir um dos empregos disponíveis sem muitas vezes levar em conta suas características pessoais. Assim, nestas condições, o ser humano é passivo porque se submete ao que existe no “leque de profissões”.
Neste contexto, a educação tem papel preponderante uma vez que (com raras exceções) não prepara o indivíduo, ou prepara pouco, para lidar com situações diferentes das tradicionalmente conhecidas. Ou seja, o emprego em alguma das opções do “leque de profissões”.
Assim, destaca Glauco, quando ocorre o desemprego o indivíduo não está preparado para empreender e se lança de qualquer forma, de qualquer jeito no acirrado mercado competitivo. Pequenos empreendimentos de “fundo de quintal” como se costuma denominar, podem resolver momentaneamente a situação pessoal de alguém, porém não traz e não agrega nenhum valor à economia do país. Infelizmente temos muito mais exemplos de fracassos do que de sucessos.
A burocracia para empreender, embora tenha diminuído nos últimos anos, ainda é um impeditivo para muitos novos empreendedores. A criação do Simples Nacional juntamente com o Empreendedor Individual foram medidas que facilitaram a formalização de pequenos negócios. Com a formalização, esses negócios são computados nas estatísticas econômicas do país.
O conhecido escritor americano Guy Kawasaki diz: “Se queres oferecer um serviço de excelência ao cliente, promete menos e faça mais”. Talvez este seja o ponto mais nevrálgico dos pequenos e informais negócios. Como o empreendedor não é uma pessoa preparada o cliente “foge” em seguida e o negócio fracassa.
Glauco diz que em uma pesquisa patrocinada pelo SEBRAE e GEM (Monitor de Empreendedorismo Global) em 2015, revela que desde 2009 houve aumento na participação de pessoas que abriram um negócio próprio por necessidade, porém nos dois últimos anos cresceu de 29% para 43,5%. Em contrapartida houve a redução de 71% para 56,5% dos que viram uma oportunidade no mercado. Aqui está a dualidade do empreendedorismo por necessidade. Enquanto a recessão econômica do país e o desemprego obrigam as pessoas a buscarem alternativas econômicas, aqueles que estariam preparados e visando o crescimento do mercado, se retraem.
Medidas como a redução da burocracia, simplificação da legislação, facilidade de crédito e educação empreendedora certamente retiraria muitos empreendimentos da “necessidade” e da “informalidade” para agregar valor à economia do país gerando emprego e renda para muitos indivíduos.
Segundo Glauco, a educação empreendedora ajudará o indivíduo, que trabalhou por algum tempo em alguma empresa e provavelmente em apenas um setor, desenvolver sua visão sistêmica. É comum o empregado ter conhecimento do seu trabalho, porém não consegue ter a visão do todo. Quando esse indivíduo parte para empreender o seu próprio negócio, se depara com as dificuldades de não ter a visão sistêmica necessária, aumentando muito o risco do fracasso.
O estudo do SEBRAE e GEM ainda revela que boa parte dos empreendimentos iniciais são tocados por jovens de 18 a 35 anos com escolaridade abaixo do segundo grau (44%) ou com o segundo grau completo (49%). Escrevi em outro artigo (aqui no site) sobre a importância da educação empreendedora. Não basta apenas ter uma boa ideia. É preciso executa-la e para isso a educação empreendedora minimiza os riscos do empreendimento.
A reação lenta da economia sugere que para 2017 o desemprego deve piorar mais do que era esperado. Analistas de grandes instituições indicam um aumento do desemprego na ordem de 1,5% a 2% em 2017. Isso significa que provavelmente um percentual desses desempregados inicie alguma atividade própria abastecendo novamente as estatísticas da informalidade.
Não é uma tarefa fácil mudar este quadro, porém, estimular a mudança cultural através da educação empreendedora, reduzir os impostos sobre o empreendedor emergente com políticas tributárias que permitam a inclusão empresarial e facilitar o acesso ao crédito certamente contribuiriam muito para que o sucesso dos empreendimentos seja alcançado.