GLAUCO DINIZ DUARTE – Usinas hidrelétricas: geração de energia limpa?
Responsável por 64,7% da geração de energia elétrica no Brasil, a energia hidrelétrica tem um papel fundamental na nossa matriz energética. O grande potencial hídrico brasileiro é um atrativo e tanto para a instalação de usinas por todo o território. Entretanto, há inúmeras controversas quando se trata de seus impactos socioambientais.
A energia hidrelétrica é uma fonte renovável e suas usinas são estratégicas para a segurança energética. Seus reservatórios oferecem flexibilidade operacional singular, pois podem responder imediatamente às flutuações de oferta e demanda de eletricidade. Esta flexibilidade permite o emprego paralelo de fontes intermitentes de energia renovável, como energia solar e eólica.
Populações locais ribeirinhas
No entanto, há uma enorme dificuldade/ausência de participação popular no processo de tomada de decisão sobre a instalação ou não de uma usina. Em comum, os projetos hidrelétricos apresentam problemas de intervenção na natureza e principalmente na vida das populações locais ribeirinhas.
Antes do funcionamento de uma usina é necessário desviar o curso do rio para formar um grande reservatório. A formação da represa afeta fortemente a biodiversidade local – espécies de peixes desaparecem, animais fogem para refúgios secos, árvores viram madeira podre debaixo da inundação e produzem metano (um gás poluente que contribui para o efeito estufa, impede a reprodução de alguns peixes e permite a proliferação de algas, causando desequilíbrio aquático) e há indisponibilidade de terras férteis. É um estrago e tanto.
Além disso, as represas interferem de forma irreversível no microclima local, provocando alterações na temperatura, na umidade relativa do ar, na evaporação e afetam o ciclo pluvial.
Fora o impacto social
O alagamento de propriedades, casas, áreas produtivas e até cidades inteiras provocam a saída compulsória da população ribeirinha, desintegrando os costumes e tradições históricas que a população da área atingida possuía.
Assim, os impactos sociais e ambientais provocados pela construção desses lagos são irreversíveis e, mesmo com a tentativa de amenizá-los, através do reassentamento das famílias e da transferência de parte da fauna, essas alternativas não são suficientes para evitar grandes perdas.
Dependendo de quem e em que perspectiva se analisa os impactos provocados por hidrelétricas, pode-se contabilizá-los como positivos ou negativos. Dessa forma, a energia hidrelétrica é um dos mais importantes paradigmas ou paradoxos da economia ambiental.