GLAUCO DINIZ DUARTE – Com forte disputa, leilão de transmissão tem deságio médio de 40% e garante investimentos de quase R$ 9 bilhões
O leilão para novos empreendimentos de transmissão de energia teve todos os 11 lotes arrematados nesta sexta-feira (15), viabilizando investimentos estimados em R$ 8,7 bilhões, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O leilão teve 47 grupos participantes, sendo 14 estreantes, e foi marcado por forte disputa e domínio de empresas estrangeiras ou controladas por grupos internacionais, o que garantiu descontos de mais de 50% no valor de remuneração a ser paga aos investidores ao longo da concessão de 30 anos.
Na média, cada lote foi disputado por 12 empresas (no lote 5 foram 19 concorrentes) e em 6 deles o vencedor foi definido somente na disputa viva voz.
O deságio médio nos lotes foi de 40,46%, com variação entre 34,65% e 53,94%, ficando acima do desconto médio de 36,5% do último leilão realizado em abril. Quanto maior o desconto da proposta, maior a economia aos consumidores, uma vez que a remuneração dos consórcios entrará no cálculo das contas de luz.
Segundo a Aneel, foi a primeira vez desde 2014 em que todos os lotes oferecidos são arrematados e o maior deságio médio em “muitos anos”. No leilão de abril, 4 dos 35 lotes encalharam. No anterior, de outubro de 2016, 3 de 24 lotes ficaram vazios.
Os empreendimentos visam ampliar a oferta de energia e fortalecer o sistema. Entre os principais lotes, o 3 e 4 irão atuar no escoamento da energia da usina de Belo Monte para o Nordeste.
Competição
A maioria dos lotes receberam oferta de mais de 10 concorrentes (no lote 5 foram 19) e em 6 deles o vencedor foi definido somente na disputa viva voz.
Nesta edição, a remuneração máxima para todos os lotes fixada pela Aneel foi de R$ 1,534 bilhão anuais, mas com o alto deságio, o valor caiu para R$ 913,8 milhões por ano.
Essa diferença proporcionará uma economia de R$ 620, 9 milhões aos consumidores ao longo dos 30 anos de outorga, de acordo com a Aneel.
“O nível de competitividade reflete a confiança do investidor no marco regulatório e no próprio país”, disse o secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia, Fábio Lopes Alves.
Segundo ele, a previsão é que o próximo leilão de transmissão ocorra até o final de junho de 2018, com estimativa de pelo menos R$ 8 bilhões em investimentos.
Vencedoras
A maior vencedora do leilão foi a Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola, que arrematou 2 dos 5 maiores projetos oferecidos, os lotes 4 e 6, com deságios de 46,62% e 44,56% respectivamente, com quase R$ 2 bilhões em investimentos previstos.
A outra grande vencedora foi a indiana Sterlite Power Grid, que levou o lote 3, que prevê o maior volume de investimentos (R$ 2,78 bilhões). A empresa já tinha sido o destaque do leilão de abril, ao arrematar duas das licitações.
A francesa Engie e a Celeo (controlada por espanhóis) também saíram vitoriosas nesta sexta, ficando respectivamente com os lotes 1 e 2.
A maior disputa entretanto se deu no lote 5, que teve 19 concorrentes e foi arrematado pela construtora Cesbe, com uma oferta 53,94% abaixo da remuneração máxima fixada pelo edital – o maior deságio do leilão.
Entre as brasileiras, outro destaque foi a construtora Quebec, que integra os consórcios que faturaram os lotes 7 e 8, que preveem investimentos de mais de R$ 500 milhões.
Ao todo foram concedidos 4.919 km de linhas de transmissão e subestações com capacidade de transformação de 10.416 MVA. Esses projetos vão passar pelos estados do Paraná, Piauí, Ceará, Pará, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. A previsão da Aneel é que as obras devem durar de 32 a 60 meses, dependendo do lote, e que devem gerar 17.869 empregos diretos.
Novatas
O leilão também foi marcado pela entrada de novas empresas no setor de transmissão, incluindo construtoras de menor porte como a Montago, de Maringá, que arrematou o lote 11 na sua estreia em licitações da Aneel.
“Já vínhamos trabalhando como prestadores de serviços. A oferta de lotes menores e juros mais favoráveis torna o momento mais favorável para investir”, disse Alexandre Magalhães, presidente e dono da Montago.
A empresa se comprometeu a um volume de investimento de R$ 44,8 milhões e pretende aportar até 50% de capital próprio. “Para esse tipo de negócio está chovendo oportunidades tanto de opções de financiamento tradicionais quanto de investidores estrangeiros e de fabricantes chineses e indianos”, acrescentou.