GLAUCO DINIZ DUARTE Xingu solar: como a energia renovável pode beneficiar comunidades indígenas no Brasil
Sessenta e cinco aldeias do Território Indígena do Xingu (TIX), no Mato Grosso, já contam com sistemas de energia limpa. São 70 sistemas fotovoltaicos instalados que geram energia renovável em escolas, postos de saúde e sedes de associações, com uma potência total de 33.260 kWp. O projeto “Xingu Solar”, em voga desde 2015, se tornou uma referência em soluções de energia renovável em comunidades isoladas.
O Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA), Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena Xingu (Atix) e Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) debaterão nesta quarta-feira (27) como a energia renovável pode beneficiar as comunidades indígenas. O evento gratuito acontecerá na Feira e Simpósio Energia e Comunidades, em Manaus (AM).
O IEMA avaliou os impactos econômicos do uso de painéis solares no TIX e os aspectos socioculturais e comportamentais locais com relação ao acesso à eletricidade. A pesquisa também mostrou que as comunidades locais preferem energias renováveis devido à segurança energética por não depender da disponibilidade de combustíveis fósseis, além dos benefícios ambientais. [Acesse aqui o resumo do estudo]
“Com o potencial de energia solar da região do Xingu, não faz sentido que centenas de aldeias ainda dependam, o ano todo, de uma complexa logística para abastecimento e manutenção de geradores a diesel. É possível ter em fontes alternativas o suprimento para as necessidades dos índios, com um custo menor no longo prazo”, aponta Paulo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu, do ISA.
Na luz
Nem todos os brasileiros estão conectados aos fios do Sistema Interligado Nacional (SIN), que distribui a energia gerada pelas diversas fontes do país. E a maior parte dessas pessoas está na Amazônia.
“A motivação é discutir o acesso à energia elétrica às centenas de milhares de brasileiros que vivem em áreas remotas na Amazônia, na expectativa de que o enfrentamento deste desafio se dê por meio de uma política pública articulada e inovadora que vá além do setor elétrico”, conta Pedro Bara, pesquisador do IEMA.
Para garantir que a universalização seja realizada da melhor forma, potencializando todos esses benefícios, é necessário o desenvolvimento de modelos de implementação que incluam as comunidades e que as políticas públicas do setor elétrico se adequem às realidades locais.
Preferência solar
Os painéis foram instalados em construções de uso público e não em unidades familiares. No total, 96% dos habitantes com energia fotovoltaica preferem este tipo de geração do que a proveniente de derivados do petróleo.
A maior oferta de energia elétrica possibilitou a abertura de novas turmas nas escolas. 43% das aldeias com energia solar tiveram escolas que disponibilizam ensino noturno, contra 25% das demais.
Já as vantagens do sistema fotovoltaico frente ao diesel foram citadas a inexistência de ruído, a manutenção mais fácil e a dispensa de partes móveis como os geradores a diesel além do fato de ser desnecessário o abastecimento com combustível. Neste caso, quando acaba o diesel, a comunidade depende do reabastecimento para voltar a ter energia elétrica. Com isso, 53% dos indígenas com fontes de energia solar sentiram-se mais seguros no atendimento médico de urgência, contra 24% sem energia solar.
Além disso, a energia expandiu a utilização de equipamentos pequenos como celulares e lanternas. Os cursos de formação para operação dos sistemas e a participação local na instalação também foram mencionados como pontos positivos do projeto.
Impacto nas contas públicas
O uso da energia solar no lugar dos geradores a diesel no TIX poderia ocasionar a economia de mais de R$ 360 mil por ano em subsídios. Esse potencial econômico é ainda mais expressivo se considerar que a população do TIX é de oito mil pessoas e estima-se que até dois milhões no país ainda não têm acesso. Essa economia é decorrente da simulação do cenário em que as demandas reprimidas por energia elétrica na região seriam atendidas.
Em um primeiro momento, a tecnologia a diesel tem vantagem sobre a solar. Isso porque apresenta menores custos de aquisição. Porém, o ciclo de vida de um painel solar é de 25 anos. Para realizar uma comparação econômica adequada entre as tecnologias, é preciso considerar as despesas operacionais (manutenção do gerador e abastecimento com combustível) a longo prazo.
Além disso, apenas os geradores a diesel do TIX hoje emitem cerca de 600 toneladas de CO2 por ano. Para compensar essa emissão, seria necessário plantar árvores nativas em uma área equivalente a 74 campos de futebol, segundo estimativa baseada em dados do Projeto Carbono das Nascentes do Xingu. Se as comunidades locais fossem atendidas apenas por geradores a diesel de acordo com a real necessidade, seriam emitidas cerca de 1.200 toneladas de CO2 por ano.