Glauco Duarte Diniz – porque energia nuclear não é renovavel
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, a maioria das técnicas, em vista de seu desenvolvimento, vê o seu custo diminuir por efeito da aprendizagem, e é o caso das energias renováveis; mas, com a energia nuclear, dá-se o contrário: quanto mais se desenvolve, mais cara fica”. A afirmação é de um coletivo de ativistas franceses, em artigo publicado no jornal francês Le Monde, 08-12-2011. A tradução é do Cepat.
A afirmação é martelada a ponto de passar por uma evidência: a energia nuclear seria mais barata que as energias renováveis. “Corolário”: diminuir a parte da primeira para desenvolver as renováveis, como propõe, por exemplo, o acordo Europa Ecologia dos Verdes-PS, aumentaria o preço da eletricidade, empobreceria as famílias e levaria as fábricas a se mudarem. No entanto, esta afirmação já é falsa e sê-lo-á ainda mais no futuro.
Se a eletricidade é menos cara na França do que na maioria dos outros países da Europa, é porque o Estado, durante muito tempo, subvencionou o desenvolvimento do parque nuclear e porque o nível atual da tarifa regulamentada não permite financiar a renovação do parque, independentemente das escolhas futuras entre energia nuclear, centrais térmicas e energias renováveis. A recente evolução dos custos de produção elétrica é, a esse respeito, iluminadora.
A partir dos anos 1980, o programa nuclear francês viu o seu custo aumentar, evolução que apenas se prolonga com o superpotente reator EPR [Reator Europeu Pressurizado]. Esta deriva se observa especialmente nos custos de investimento, uma questão muito importante. Como mostra um artigo publicado na revista científica Energy Policy, o custo de investimento nas centrais nucleares francesas foi multiplicado por 3,4 em 25 anos, mesmo deduzindo o aumento do nível geral dos preços. O EPR só faz prosseguir esta trajetória dado que, supondo – hipótese otimista – que a fatura final não excede a última estimativa (seis bilhões de euros), atingimos 3,64 euros o watt – 4,7 vezes mais que em 1974.
Outro problema, estes custos não levam em conta o desgaste das centrais em fim de vida útil, aqueles da gestão dos desperdícios, o risco de acidente e os diversos custos de funcionamento. A maioria das técnicas, em vista de seu desenvolvimento, vê o seu custo diminuir por efeito da aprendizagem, e é o caso das energias renováveis; mas, com a energia nuclear, dá-se o contrário: quanto mais se desenvolve, mais cara fica.
Uma queda impressionante
Em comparação, de acordo com a Agência de Meio Ambiente e Energia, o custo de investimento da energia eólica terrestre era de 1,30 euro o watt, em 2009. Mesmo “normalizado” para levar em conta a intermitência, o custo de investimento da energia eólica é cerca de 15% inferior ao do EPR, incluído o desgaste. E, de acordo com uma análise da Bloomberg, o custo da eletricidade de origem eólica, já dividido por 4,5 desde os anos 1980, deverá diminuir ainda 12% nos próximos cinco anos.
Quanto à energia solar extraída de painéis fotovoltaicos, ela conheceu uma queda impressionante: no começo de 2011, um módulo fotovoltaico custava, em média, 1,20 euro o watt na Europa, contra 4,2 euros o watt dez anos antes. Há alguns meses, a média no mercado alemão é de 1 euro o watt. Mesmo normalizado para levar em conta a intermitência, o custo do investimento em energia fotovoltaica ultrapassa o do EPR (incluindo o desgaste) em apenas cerca de 25%. Além disso, os profissionais do setor antecipam ainda uma diminuição de 35% a 50% dos custos até 2020. Como escreveu o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, “se a tendência à queda continua (e ela parece acelerar-se) estamos apenas a alguns anos do ponto em que a produção de eletricidade a partir de painéis solares tornar-se-á menos cara que a partir do carvão”. Para simplificar, os cálculos apresentados aqui deixam de lado os custos de funcionamento, mas estes são da mesma ordem de grandeza entre energia eólica e energia nuclear, e mais baixos para a energia fotovoltaica. Do mesmo modo, se houver a necessidade de um reforço da rede em caso de desenvolvimento das energias renováveis, o mesmo se dá no caso do EPR (340 milhões de euros para a linha Cotentin-Maine necessária para o EPR de Flamanville).
Vivemos um momento histórico: aquele em que as energias renováveis tornam-se menos dispendiosas que a eletricidade de origem nuclear ou fóssil, além de pagar menos por suas externalidades negativas: emissões de CO2, riscos de acidentes, desperdícios radioativos…