Glauco Duarte Diniz – energia termelétrica é renovavel
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, a Índia caminha para ser o país mais populoso do mundo (deve ultrapassar a China até 2024), é a 4ª economia global (medida em poder de paridade de compra), mas tem uma baixa renda per capita e é altamente dependente do uso do carvão como fonte energética. A Índia é um dos países que apresentam as maiores taxas de crescimento econômico do mundo, mas também é um dos países que aumentam com mais rapidez as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e enfrenta níveis catastróficos de poluição, especialmente nas grandes cidades.
A Índia tem 1,35 bilhão de habitantes e cerca de 300 milhões sem acesso à energia elétrica, sendo que o objetivo 7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável diz: “Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos”. O grande dilema do país é como prover energia barata, acessível e limpa sem causar maiores danos ambientais. A pegada ecológica da Índia foi de 1,45 bilhão de hectares globais (gha) para uma biocapacidade de apenas 586 milhões de gha, em 2014. Ou seja, o déficit ambiental indiano foi de 865 bilhões de gha (ficando atrás apenas da China e dos EUA).
Desta forma, a Índia precisa combater a pobreza, universalizar o acesso à energia elétrica e reduzir os níveis de poluição e de emissão de GEE. A única forma de conseguir isto é abandonar o uso exaustivo do carvão e utilizar fontes de energia renovável.
Para tanto, o primeiro-ministro Narendra Modi lançou um projeto (Saubhagya) para eletrificar todos os lares na Índia e o Plano Nacional de Eletricidade da Índia para expandir em cinco vezes a capacidade gerada por energias renováveis para 258 GW até 2022. Isso reduziria a atual participação de 66% das térmicas na geração de energia na Índia para 43%, o que ajudaria a tornar o país independente das importações de carvão. A meta para 2030 é ainda mais ambiciosa e visa tornar a Índia um país com alta proporção de energia renovável em todos os aspectos da economia.
Diversos analistas consideram o plano é viável, pois o boom da energia solar e eólica da Índia representou uma diminuição dos custos, que caíram de 12 centavos por kW/h para apenas 4 centavos por kW/h (ficando mais barato que o uso do carvão). O país pretende substituir 770 milhões de pontos de iluminação pública e doméstica por iluminação LED (mais econômica e mais acessível). O modelo de negócio utilizado é o denominado Energy Service Company (ESCO) (empresa de serviços energéticos), que cria receitas a partir dos custos de energia que consegue poupar dos clientes.
A Índia tem sido pioneira na utilização da energia renovável descentralizada (ERD). Um relatório da rede de acesso à energia limpa (CLEAN), baseado em dados parciais para o ano fiscal 2016-17, mostrou que o setor de ERD implementou 3,6 milhões de painéis solares, 92.000 sistemas solares domésticos, 206 mini redes e 144 projetos de uso produtivo.
Os automóveis elétricos são o próximo grande salto que a Índia pretende dar. A Tata Motors Ltda, com a Mahindra e a Mahindra Ltda, planeja aumentar sua capacidade de fabricação de veículos elétricos para 5.000 unidades por mês e elevar a infraestrutura de carregamento elétrico.
Como mostra Joshua Hill (12/06/2018), a Índia já é o quinto país do mundo em termos de capacidade instalada de energia renovável com 70 GW e outros 40 GW em licitação ou construção. O gráfico abaixo indica que o crescimento das energias renováveis a partir de 2016 tem superado em muito as usinas de carvão. Sem dúvida a Índia tem investido pesadamente em fontes mais limpas de energia, para se manter em linha com o Acordo Climático de Paris.
A Índia já tem uma cidade funcionando a base de 100% de energia renovável. A cidade de Diu, no território de Damão, tem gerado 13 megawatts de eletricidade a partir de instalações de geração de energia solar (cerca de 3 MW são gerados por usinas solares nos telhados e 10 MW por outras usinas). Em apenas 3 anos, Diu se tornou 100% renovável.
Evidentemente, não vai ser fácil a Índia cumprir todas as metas de independência dos combustíveis fósseis e se tornar 100% renovável. Mas mesmo não conseguindo atingir todas as suas ambiciosas metas, a Índia já conseguiu superar em muito o que o Brasil tem feito na área de energia solar e eólica.