Glauco Duarte Diniz – biocombustiveis e energia renovavel
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, o aumento da produção de petróleo com a exploração gradual da camada pré-sal e a transição energética têm reflexo na estratégia de negócios das grandes petroleiras, que irão investir em gás natural, energias renováveis e biocombustíveis. Junto ao óleo extraído nos campos chega o gás, o que deverá dobrar a produção do insumo para 250 milhões de m3 diários em 2030. Para reduzir as emissões de poluentes globais, o etanol brasileiro deve ganhar espaço diante de uma frota mundial que deverá dobrar de tamanho em 25 anos e atingir dois bilhões de veículos. Investimentos em plantas solares e usinas eólicas também comporão o portfólio de novos negócios.
Associado ao petróleo, o gás deverá ganhar espaço no consumo industrial e do setor elétrico. “Esperamos produzir mais gás com o desenvolvimento dos nossos campos de petróleo no Brasil”, destaca Kjetil Tugland, diretor de gás da Equinor.
“Muitos negócios vão ser criados, temos um braço de comercialização de energia elétrica que pode ser o embrião de uma comercializadora de gás”, aponta Marcelo Menicucci, gerente geral de midstream da Shell Brasil Deepwater.
“Terá de haver um fim para o gás, já que há restrições técnicas para ele ser reinjetado e não pode ser queimado por questões regulatórias”, diz José Magela Bernardes, diretor-presidente da Prumo Logística, que investe em duas térmicas com 3 GW de capacidade instalada no porto de Açu (RJ), um terminal de GNL com capacidade para 21 milhões m³/dia.
Também será necessário desatar nós tributários. “Só no Brasil questão tributária é assunto de presidente de empresa”, observa Marcia Loureiro, vice-presidente tributária internacional da Equinor. Um dos problemas é que o país não tem tratamento uniforme para o insumo, ou seja, cada Estado tem uma alíquota diferente sobre a molécula. O gás da Bolívia pode atravessar seis Estados.
Outro desafio é criar mais convergência entre o gás natural e o setor elétrico. A maior intermitência na matriz, com o avanço de usinas eólicas e solares, exigirá energia térmica na base. “Se as autoridades querem segurança total, isso tem um custo, se for previsto que a energia será despachada todos os dias por 25 anos, isso tem um valor de investimento de exploração e produção. É preciso então criar maneiras para não superdimensionar esse investimento e para aperfeiçoar o uso das térmicas no sistema”, analisa Camila Schoti, gerente de assuntos regulatórios da Eneva, que produz oito milhões de m3 por dia, gás suficiente para atender Pernambuco e Minas Gerais.
Uma das principais novidades do setor é a chamada pública de contratação de capacidade no Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol) que a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) está realizando. Ela será concluída em julho e contempla 18 milhões de m3 por dia. Todos os novos contratos firmados pela TBG passarão a contemplar o novo regime de entrada e saída, que amplia a concorrência e propicia mais flexibilidade para que comercializadoras e produtoras possam participar do mercado. “Será um teste do novo mercado que surge”, analisa Ricardo Pinto, diretor comercial da TNS.
Energia renovável também integra o portfólio de investimentos futuros das empresas. Equinor e Petrobras firmaram semana passada memorando para desenvolvimento de negócios em energia eólica offshore no Brasil. As empresas estão investigando ainda outras áreas de cooperação, incluindo o desenvolvimento de iniciativas em renováveis. A estatal brasileira não possui usinas eólicas no mar, enquanto a norueguesa opera três parques eólicos ao longo da costa do Reino Unido.
Para Carla Lacerda, presidente da ExxonMobil Brasil, o período de transição energética que o mundo vive se refletirá em uso mais intenso de tecnologia, no aumento dos biocombustíveis no mundo, de 1% para 15% até 2040, investimentos em eficiência energética e no maior uso de gás. No Nordeste, a empresa investe em um projeto para fornecer GNL a uma térmica.
O presidente da Shell, André Araújo, ressalta que a transição energética implicará decisões difíceis para empresas, consumidores e governos, já que cumprir as metas do Acordo de Paris significa mudanças no sistema energético.