Glauco Duarte Diniz – qual energia não é renovavel
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, a drástica queda na demanda por eletricidade vista em todo o mundo devido às medidas de isolamento adotadas contra a disseminação do coronavírus tem levado a mudanças importantes na operação do sistema elétrico em diversos países, inclusive no Brasil, onde até mesmo a geração de energia renovável vem sendo afetada.
Mas, enquanto na Europa e nos Estados Unidos a pandemia ajudou a desligar termelétricas e reduzir emissões, ao ampliar a fatia de fontes renováveis na matriz, no Brasil o novo cenário tem por vezes exigido restrições à geração de usinas limpas, como eólicas e solares, disseram especialistas à Reuters.
Esse comportamento deve-se às características particulares do parque gerador do país, onde as renováveis já predominam e não há parcela suficiente de usinas movidas a combustíveis fósseis para que estas absorvam sozinhas o choque na demanda.
O sistema brasileiro também teve relevante expansão recente com hidrelétricas na Amazônia, construídas sem reservatórios para aliviar impactos ambientais, o que hoje dificulta o controle da produção pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão técnico que coordena o acionamento de usinas e linhas de transmissão para atender à carga.
“Hoje, até pela pandemia, nós estamos fazendo cortes de geração para balancear com a carga. Não conseguimos alocar toda essa geração no sistema”, disse à Reuters o diretor de Operação do ONS, Sinval Gama.
O ONS prioriza despachar usinas que dependem de recursos sem custos e que não podem ser controlados, como vento e sol. Mas algumas hidrelétricas não têm flexibilidade para reduzir a produção pela falta de reservatório ou por questões ambientais, enquanto algumas térmicas são vistas como necessárias para garantir a segurança do sistema, acrescentou ele.
“Se eu já consegui restringir toda a geração que é passível de ser feita restrição e ainda sobrou excesso, eu tenho que cortar. A eólica e a solar são as últimas a serem cortadas”, acrescentou ele.
Esses procedimentos visam garantir que a rede elétrica esteja sempre pronta para suportar uma eventual elevação súbita da demanda ou queda na geração, por questões como baixos ventos ou nuvens que atrapalhem a produção solar.
“Você tem que pilotar essa situação realmente no minuto a minuto, porque você não pode deixar que o consumidor sinta essa variação”, afirmou o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, que assumiu o cargo em meados de maio.
A situação, segundo os especialistas, ainda não chega a ficar evidente para todas as fontes da matriz, mas alguns empreendimentos vêm perdendo milhões de reais pela menor operação.
Dados do ONS compilados pela Reuters mostram que a produção das eólicas respondia por 5,45% da carga em 25 de maio, enquanto as solares eram 1,1% e as termelétricas somavam 10,13%.
Em 25 de fevereiro, antes da pandemia, a geração térmica era de 11,48%, enquanto solares representavam quase 1%, e eólicas respondiam por uma geração cerca de 50% maior, de 8,5%.
Em 2019, a geração em 25 de maio também era semelhante, com 11,26% de térmicas, 7,95% de eólicas e 0,67% solares.
Em todos esses cenários as hidrelétricas seguiram como principal fonte da matriz, com mais de 70%, contando Itaipu.
“Na Europa, está aumentando, por conta da pandemia a ênfase em renováveis. No Brasil, nossa geração de renováveis já é bastante grande, muito maior que qualquer outro país do mundo. Não tem nada radicalmente diferente do que a gente vinha fazendo e de como a gente vinha operando”, acrescentou Ciocchi.
Emissões de carbono do setor de geração de energia caíram 15% em 2020 nos países mais afetados por medidas de isolamento contra a Covid-19, segundo estudo divulgado na publicação Nature Climate Change neste mês.
Nos EUA, efeitos das quarentenas sobre a demanda ajudaram as renováveis, incluindo solar, eólica e usinas hídricas, a ultrapassarem a produção de térmicas a carvão por 40 dias consecutivos, um recorde, segundo dados do governo.
“Lá (EUA, Europa) eles não têm esse problema porque o sistema é predominantemente térmico, tem um volume imenso de térmicas e você consegue controlar o sistema só reduzindo elas, não chega a afetar eólica e solar”, disse à Reuters o consultor Hermes Chipp, que dirigiu o ONS entre 2005 e 2016.
A carga de energia do Brasil caiu quase 12% em abril, primeiro mês totalmente sob efeito de quarentenas.