Glauco Duarte Diniz – Como está a construção civil na pandemia
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, o ano de 2020 foi uma curva fora da reta e muitas dúvidas permeiam os profissionais da construção. Quais são os processos que são impactados atualmente com tecnologia e o que a pandemia tem a ver com isso? Como ficará o setor da Construção civil pós-pandemia?
O conteúdo desse post foi compilado da palestra sobre Digitalização na Construção Civil, ministrada pelo nosso gerente Sílvio Etges, para o IV Congresso de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás. Primeiramente serão tratados temas como inovação, mudança de processos, e por fim serão listadas tendências e tecnologias que estão crescendo de acordo com a movimentação do mercado. Continue a leitura!
O que é inovação?
Primeiramente, não há como falar de tecnologia sem falar de inovação. Se voltarmos 50 anos atrás, por exemplo, imagine explicar para uma pessoa que um pequeno dispositivo possibilitaria a comunicação entre as pessoas do mundo todo. Hoje, isso é apenas um simples smartphone acessível a quase todos atualmente.
De forma resumida, a inovação passa por 3 pilares bem importantes: Ideia, Mudança e Resultado Positivo.
A ideia traz consigo o pensar “fora da caixa”, resolver problemas e propor soluções diferentes. Porém, é necessário pôr em prática as ideias, através de mudanças, de forma organizada e planejada, impactando pessoas, processos e tecnologias. Por fim, as ideias implementadas através de ações de mudança somente serão uma inovação se trouxerem resultados positivos para a organização, contribuindo para os objetivos estratégicos planejados.
Restrições como impulsionadoras da Inovação
Um dos grandes motivadores da inovação é a restrição. Quando ela acontece, é preciso adaptar-se o mais rápido possível e encontrar novas alternativas.
Um bom exemplo recente de restrição é a pandemia de COVID-19, onde o setor da construção precisou encontrar formas de se adaptar rapidamente e continuar produzindo, para minimizar impactos, especialmente sobre os compromissos firmados. E essa capacidade de reação é bem característica das equipes de obra, que no dia-a-dia lidam com imprevistos o tempo todo.
Como podemos observar, quando a primeira onda da pandemia no Brasil iniciou no Brasil na metade-final de março de 2020, o número de acessos à plataforma caiu significativamente. Porém, a partir de maio, quando as adaptações já estavam em curso, os acessos aumentaram novamente, voltando ao patamar do início do ano.
Relacionamento cliente x construtora
Outra questão muito importante é o relacionamento do cliente final com a construtora. Antigamente, para encontrar imóveis à venda, víamos os classificados de jornais e, se fosse necessário divulgar algo, era feito via imprensa formal e revistas especializadas. E como funciona isso hoje?
Hoje existem as redes sociais, com diversos elementos: curtidas, comentários, críticas, haters, fake news, etc. Nos dias atuais, uma construtora precisa fazer a gestão disso tudo. Os canais antigos continuam existindo, mas eles foram somados aos digitais.
Cultura da mudança
Nas empresas, discute-se muitas vezes mudar a cultura da empresa para impulsionar a inovação. Porém, a melhor escolha e os melhores exemplos passam pela implementação de uma cultura de mudança, onde a inovação é constante e presente no dia-a-dia da organização.
Em um ambiente em que tudo muda com cada vez mais velocidade, a cultura da mudança é um meio de manter a organização sustentável e competitiva no mercado.
IoT
IoT é, em sua tradução literal do inglês, é a Internet das Coisas. Por exemplo, em uma residência é possível instalar dispositivos que automatizam e monitoram o funcionamento de equipamentos eletrônicos, ar condicionados, iluminação, geladeiras etc. Na prática, todos estes equipamentos estão interligados com o mundo através da Internet, para que possam facilitar a rotina pessoal das famílias.
5G
Numa linguagem simples, o 5G é naturalmente o upgrade do 4G, com muito mais velocidade e eficácia. O 5G vem para abrir novas possibilidades, além de suportar esse aumento de conectividade que a IoT exige, trazendo a confiabilidade e estabilidade necessárias para a operação. E, certamente, vão influenciar nosso mundo daqui para frente em diversos setores, inclusive no setor da construção.
Uma utilização prática dessas tecnologias é o uso de sensores para a apropriação de insumos no de aplicação local. Quando o material chegar no local de entrega, poderá ler o material através de tecnologias como NFC, criando uma “memória de construção” muito importante para a construtora e também para o cliente final.
Para a área de assistência técnica, sensores de acúmulo de mofo, vazamento de água ou problema elétrico que geram alertas automática e diretamente para os profissionais responsáveis, é uma realidade totalmente plausível.
Se pensarmos na quantidade de dispositivos e sensores que irão gerar informações, é certo que o volume de dados para serem armazenados e tratados será imenso, necessitando de outro avanço tecnológico, que é Big Data.
Big Data
Big Data é um conjunto de dados muito volumoso e complexo, originado normalmente de várias fontes diferentes, que precisa ser armazenado e processado por ferramentas especializadas. Essa massa gigantesca de dados, quando tratada e processada, podem resolver problemas de negócio consideráveis, proporcionando uma tomada de decisão precisa e assertiva. E isso acaba por declarar o fim da era do “achismo”, e abrir caminho para um futuro analítico.
Quando pensamos em sermos mais analíticos, percebemos que precisamos encontrar outras ferramentas que evoluam o conceito de tomada de decisão, encontrando caminhos de forma mais automatizada sem a intervenção humana. E nesse cenário é que entra a Inteligência Artificial.
Inteligência Artificial (IA)
Um bom exemplo prático do que IA significa e de como se aplica: você sai do trabalho no escritório, vai direto para casa e, ao chegar, abre a porta e o ar está ligado na temperatura ideal. O ar condicionado foi ligado em determinado momento, equacionando a temperatura ideal no momento da chegada com sustentabilidade de energia elétrica.
E o grande detalhe: sem ninguém programar nada! O dispositivo com IA calculou a hora de saída, o trajeto com as condições do trânsito, a temperatura atual da casa, a eficiência do ar condicionado para atingir a temperatura ideal etc. Neste momento percebemos a quantidade de informações de diferentes fontes necessárias para a melhor tomada de decisão em tempo real.
Impacto em Processos
Agora levando todas essas tecnologias para dentro do canteiro de obras, veja 4 etapas construtivas que já utilizam tecnologia como aliada.
Análise de dados
Antes da pandemia, a previsão do FMI para o setor da construção era de um crescimento na América Latina de 2,3%. Mas após o início da COVID-19 no Brasil, os números mostraram que ia acontecer uma queda e o setor precisou pensar em estratégias e monitorar o crescimento.
Entretanto, analisando o mesmo gráfico que foi apresentado anteriormente, agora com dados até dezembro, percebe-se que a utilização do nosso portal começou a aumentar em julho e em outubro está com um volume médio de 40% superior ao ano anterior.
Analisando a última pesquisa da FMI, foi visto que o setor deve crescer em torno de 3,4% no próximo ano. Sendo assim, conclui-se que os números podem mudar e se contrapor, e várias informações devem ser combinadas para a melhor tomada de decisão.
Esse monitoramento é fundamental, pois a melhoria do resultado de uma empresa só acontece aumentando a receita e/ou reduzindo custos. Uma decisão errada pode causar ineficiência e impactar negativamente no resultado.
Serviços na nuvem
Atualmente, os serviços de nuvem oferecidos apresentam boa confiabilidade e estabilidade, contando com players de grande renome mundial, como Google, Amazon e Azure. Por isso, tornaram-se uma excelente opção de custo benefício, otimizando custos e provendo serviços robustos e escaláveis. Muitas empresas do setor da construção já adotam soluções baseadas em nuvem, como infraestrutura ou como aplicação.
Quando uma construtora opta por contratar aplicações na nuvem, normalmente obtêm-se uma grande otimização de tempo para início de uso, a rapidez de entrega do ambiente para utilização pelos usuários.
Relacionamento com fornecedores
O relacionamento dos fornecedores exigiu algumas tomadas de decisão durante a pandemia. Como existe muita mão de obra terceirizada nas obras, costuma-se gerar um grande volume de documentação no papel, e o ideal é contar com ferramentas que automatizam isso.
Com distanciamento social, a possibilidade de digitalização de documentos via dispositivo móvel abre muitas portas. O que isso significa para a construtora? O sistema envia alertas automatizados e, dessa forma, o fornecedor pode facilmente digitalizar os documentos, ficando a equipe da construtora focada na conferência dos dados entregues, tudo de forma digital. Isso otimiza todo o trâmite e armazenamento da documentação, além de diminuir a carga do setor administrativo.
Pós vendas
Sobre pós-vendas, é preciso lembrar da importância do atendimento e da comunicação digital. Por exemplo, o atendimento de solicitações passa muitas vezes pela conferência de garantias e o registro de evidências, como fotos do antes/depois. Tanto a consulta quanto a produção da documentação necessária preferencialmente devem ser digitais e integradas, pois tornarão o processo mais natural, confiável e organizado, deixando uma base histórica confiável para futuras consultas.
Assim, é possível monitorar indicadores de performance com transparência, sem que ninguém interfira na elaboração deles. Além disso, um histórico de informações confiáveis de Assistência Técnica permite a retroalimentação dos processos construtivos, tornando-se um elemento de feedback para a Engenharia, além de minimizar futuros custos de pós-vendas.