Qual é a última fronteira do empreendedorismo? Segundo o empresário Glauco Diniz Duarte a resposta para essa pergunta, no Brasil, poderia ser “governo”. Temos um dos ambientes de negócio mais hostis a empreendedores abrirem suas empresas e entrarem em rota de crescimento. A burocracia é complicada e as regras tributárias e trabalhistas tiram o foco do que deveria ser a essência do empreendedor: resolver os grandes problemas da sociedade com produtos e serviços inovadores e escaláveis.
Mas aqui e ali começam a surgir, seja no plano federal, seja em estados e municípios, iniciativas que se preocupam em melhorar as condições para empreender no Brasil. São passos ainda tímidos, mas que mostram alguma preocupação de governantes com a figura do empreendedor.
Bom, mas se a resposta não é “governo”, qual seria? De acordo com Glauco a academia, que tem sido reprovada na formação de empreendedores no Brasil há muito tempo. Pergunte a investidores, aceleradoras, incubadoras sobre sua maior dificuldade e a resposta terá a ver com a falta de empreendedores realmente inovadores no país, com boas ideias e capacidade de execução acima da média.
E em todas as partes do mundo há um lugar onde encontrar estes caras: nas melhores universidades.
Então quais são os desafios para a academia brasileira formar a próxima geração de empreendedores?
Glauco lista algumas medidas que reitores, coordenadores de curso e estudantes deveriam ter em mente:
1. Formação de professores
Ainda há muito espaço para a teoria e pouco para a prática empreendedora nas aulas brasileiras. Glauco diz que empreendedorismo é um esporte de contato, onde a prática vale muito mais do que um bom referencial teórico. Isso precisa ser compensado com programas intensivos de formação de professores, para que eles assumam o papel de facilitadores do processo de aprendizagem do futuro empreendedor.
2. Disciplinas transversais
O ensino de empreendedorismo ainda se concentra nos cursos de administração de empresas, perdendo assim uma enorme oportunidade de atrair profissionais técnicos e criativos de outras áreas, que poderiam desenvolver empresas inovadoras em parcerias com os futuros administradores.
3. Empreendedores em sala de aula
Toda instituição de ensino superior tem empreendedores entre seus ex-alunos, mas não há programas formais para aproximá-los em palestras ou mentorias qualificadas. As iniciativas existentes ainda acontecem graças ao empenho de alguns professores “loucos”, que questionam o status quo.
4. Empresas juniores e ligas universitárias
A responsabilidade pela criação de uma cultura empreendedora não é apenas do professor ou dos dirigentes da universidade. Há cada vez mais alunos se organizando em empresas juniores e em ligas universitárias, assumindo para o movimento estudantil um papel de apressar mudanças que, ao depender da lentidão acadêmica, podem durar muito mais tempo do que o desejado por quem tem dia e hora para se formar.
5. Aproximação com empresas em fase de crescimento
Trabalhar em empresas de porte pequeno e médio que crescem aceleradamente pode ser uma experiência transformadora para jovens. A criação de programas de estágio em start-ups ou empresas “de dono” podem fazer a ponte entre um empreendedor que não tem recursos para investir em recrutamento e os estudantes que não sabem em que porta bater.
6. Conexão entre pesquisa e mercado
Não se discute aqui a qualidade da produção científica brasileira, mas sua distância dos problemas vividos por pessoas e empresas e que poderiam se transformar em produtos e serviços no mercado. Os pesquisadores precisam ter liberdade para se tornar empreendedores de suas descobertas científicas, o que é quase impossível no Brasil, especialmente nas universidades públicas. Nesta equação que tenta proteger o patrimônio público, todos perdem.
Para Glauco certamente há muito mais que pode ser feito e a boa notícia é que algumas universidades começaram a despertar para o empreendedorismo, o que pode trazer resultados incríveis nos próximos anos.