De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, a cultura do empreendedorismo, tão difundida em países como Estados Unidos, ainda é pouco difundida nas universidades brasileiras, o que limita o interesse dos estudantes.
Segundo Glauco, empreender ainda não é a primeira opção dos universitários brasileiros ao chegar no mercado de trabalho. E o desestímulo pode continuar, caso o modelo de ensino não mude nos próximos anos.
As universidades brasileiras apoiam o empreendedorismo como em países desenvolvidos?
Glauco diz que infelizmente ainda não. Para se ter uma ideia, no Brasil, apenas 11% dos egressos de cursos de graduação tiveram (ou têm) uma experiência empreendedora real, de acordo com o relatório Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras.
O que falta?
Segundo Glauco o mesmo relatório aponta para uma falta de apoio aos estudantes. Cerca de seis em dez instituições públicas brasileiras pesquisadas não oferecem aconselhamento, networking ou sessões de suporte a negócios dos alunos. Nas instituições privadas, a proporção é de quatro em dez instituições.
Disciplinas sobre empreendedorismo nas universidades seriam determinantes para mudar isso?
Não exatamente. Um dos 4.911 alunos entrevistados neste estudo afirmou que o que ele sente falta não é de uma disciplina, mas de um programa que instigue o aluno a mudar, a pensar de forma diferente. Ou seja, ainda que 63% dos estudantes entrevistados já tenham participado de um curso de empreendedorismo na universidade, a abordagem não foi eficaz para a criação de uma opção de carreira real empreendedora logo após a formatura.
Qual é a importância das universidades na formação de novos empreendedores?
Durante a formação acadêmica, destaca Glauco, além de receber uma formação profissional (baseada no conhecimento), os alunos são provocados a desenvolver competências e atitudes tanto para sua futura adaptação ao mercado (ou academia), como para o empreendedorismo. É claro que alguns currículos provocam mais ou menos determinadas atitudes, mas a formação e o momento da graduação permitem que o aluno desenvolva habilidades, conhecimentos e atitudes de forma despreocupada, já que o erro faz parte do aprendizado nessa fase. Assim, a formação acadêmica e o preparo para o empreendedorismo não são abordagens contrárias, mas sim, podem ser complementares.
O empreendedorismo já é a primeira opção entre os recém formados?
Após a graduação, destaca Glauco, vemos que as alternativas profissionais para os universitários podem ser listadas em: primeiro, carreira acadêmica; segundo, ir para um emprego numa corporação estável; e, terceiro, empreender. Mesmo quando expostos a disciplinas sobre empreendedorismo, a maioria dos alunos passa pelo último ano focando na primeira ou na segunda alternativa. Assim, todo o processo atual ainda se mostra ineficiente para inserir o empreendedorismo como uma opção.
O que tem sido feito para mudar isso?
Em todo o mundo, programas de educação para o empreendedorismo têm crescido e mostrado aos estudantes o empreendedorismo como uma carreira viável. Ainda há desafios, mas a educação para o empreendedorismo vem evoluindo nas últimas décadas tanto no formato quanto no conteúdo: se antes predominavam as palestras teóricas e cursos centrados no professor, hoje há programas práticos voltados à aceleração de ideias, baseados em conexões mais descentralizadas com a participação de mentores.
E no Brasil?
Segundo Glauco o Brasil tem vários programas para estimular a construção de empresas de base tecnológica, como os apoiados pela Fapesp e pela Finep e também alguns programas de aceleração como o Start-up Brasil. Além disso, o país está gradualmente formando um ecossistema de empresas de capital de risco, incubadoras e aceleradoras que complementam e apoiam as iniciativas do poder público. Todos estes programas têm um foco em grupos profissionais com alguma experiência, que já estão organizados em torno de uma empresa ou estrutura formal.